sábado, 8 de fevereiro de 2014

POESIA :QUINZE ANOS


QUINZE ANOS

Oh! la fleur de l'Eden, pourquoi l'as-tu

fannée,

Insouciant enfant, belle Eve aux blonds

cheveux!

ALFRED DE MUSSET

Era uma pobre criança...

— Pobre criança, se o eras! —

Entre as quinze primaveras

De sua vida cansada

Nem uma flor de esperança

Abria a medo. Eram rosas

Que a doida da esperdiçada

Tão festivas, tão formosas,

Desfolhava pelo chão.

— Pobre criança, se o eras! —

Os carinhos mal gozados

Eram por todos comprados,

Que os afetos de sua alma

Havia-os levado à feira,

Onde vendera sem pena

Até a ilusão primeira

Do seu doido coração!

Pouco antes, a candura,

Coas brancas asas abertas,

Em um berço de ventura

A criança acalentava

Na santa paz do Senhor;

Para acordá-la era cedo,

E a pobre ainda dormia

Naquele mudo segredo

Que só abre o seio um dia

Para dar entrada a amor.

Mas, por teu mal, acordaste!

Junto do berço passou-te

A festiva melodia

Da sedução... e acordou-te!

Colhendo as límpidas asas,

O anjo que te velava

Nas mãos trêmulas e frias

Fechou o rosto... chorava!

Tu, na sede dos amores,

Colheste todas as flores

Que nas orlas do caminho

Foste encontrando ao passar;

Por elas, um só espinho

Não te feriu... vais andando...

Corre, criança, até quando

Fores forçada a parar!

Então, desflorada a alma

De tanta ilusão, perdida

Aquela primeira calma

Do teu sono de pureza;

Esfolhadas, uma a uma,

Essas rosas de beleza

Que se esvaem como a escuma

Que a vaga cospe na praia

E que por si se desfaz;

Então, quando nos teus olhos

Uma lágrima buscares,

E secos, secos de febre,

Uma só não encontrares

Das que em meio das angústias

São um consolo e uma paz;

Então, quando o frio 'spectro

Do abandono e da penúria

Vier aos teus sofrimentos

Juntar a última injúria:

E que não vires ao lado

Um rosto, um olhar amigo

Daqueles que são agora

Os desvelados contigo;

Criança, verás o engano

E o erro dos sonhos teus;

E dirás, — então já tarde, —

Que por tais gozos não vale

Deixar os braços de Deus.

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